
COMUNICALCS
A VOZ ATIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS – UFSC

6ª EDIÇÃO
O Jornal Estudantil do Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais | UFSC
JUNHO-JULHO/2020
COMUNICALCS
A voz ativa das Ciências Sociais

Editorial
PRIVATIZAÇÃO COMO LÓGICA POLÍTICA
ou, desenterrando o cadáver do liberalismo!
⠀⠀⠀Antes que muitos de nós tivessem nascido, em maio de 1997, Fernando Henrique Cardoso (FHC), vinha a público anunciar a privatização de uma das mais importantes mineradoras do mundo, a Vale do Rio Doce, chamada posteriormente apenas de Vale. Esta venda, embora seja a que mais chame atenção até os dias de hoje, foi uma entre as 80 ocorridas durante os mandatos do liberal paulistano.
⠀⠀⠀Sob a promessa de controle da dívida pública, políticas de austeridade como essa surgem de tempos em tempos para concretizar o plano maquiavélico de transferir recursos dos cofres públicos, ou seja, do trabalho do povo em forma de imposto, para os cofres privados (muitas vezes de empresas estrangeiras). Autores como David Harvey, chamam isso de acumulação por espoliação, em um franco diálogo com a teoria econômica de bases marxistas. Com razão, já não bastasse o povo perder pela apropriação do seu trabalho a partir da mais-valia que vira lucro das empresas, perder suas terras por esquemas de grilagem sob vista grossa do Estado, e seus recursos naturais a partir da estrangeirização operada pelos governos neoliberais, acabam tendo as empresas estratégicas, importantes ao desenvolvimento econômico e social do país, vendidas por preços menores do que valem. Entretanto, sabemos que dentro do Estado burguês, estas ainda não estão à disposição do povo como deveriam, e diante disso, cabe a luta!
⠀⠀⠀A Privatização como lógica política é parte de uma longa tradição liberal nas instituições, que se utiliza do Estado para fins privados, desalojando pessoas, causando problemas sociais e políticos, operando o aprofundamento da dependência econômica dos países subdesenvolvidos e, embora os movimentos sociais latino-americanos acreditassem que esta prática houvesse sido rompida, dado o avanço das políticas de redução de desigualdade social na região a partir dos anos 2000, atualmente, há sujeitos com suas pás, querendo desenterrar o cadáver do liberalismo. Paulo Guedes e sua corja de liberais, que abraçam o fascismo bolsonarista, são um exemplo disso. ⠀⠀⠀Desde que assumiu o mandato, em 1º de Janeiro de 2019, Jair Bolsonaro e sua equipe, demandaram da estrutura estatal a privatização de pelo menos 17 empresas públicas, entre elas, os Correios, a Eletrobrás, Dataprev e a Casa da Moeda. Ou seja, para este governo neoliberal, manter sob o controle do Estado, gerando empregos, renda e implementação de políticas públicas estratégicas, empresas que lidam com entregas, energia elétrica, dados confidenciais e a própria produção e gestão da moeda nacional não são importantes. Assim, sob pretextos antipopulares, Paulo Guedes por meio de sua secretaria de desestatização, dirigida pelo liberal Salim Mattar, operam um esquema de entrega da soberania para o capital transnacional. Além disso, é importante lembrar que até mesmo recursos naturais, como postos de petróleo e áreas de preservação ambiental fazem parte do pacote de entrega subordinada às potências estrangeiras, fora toda a pirataria realizada com as terras brasileiras feita de maneira extra-institucional. Na última segunda-feira (06/07), por exemplo, Guedes veio à público, mais uma vez, dizer que todas as empresas públicas deveriam ser entregues ao setor privado. Deixando de lado, toda a relevância social delas.
⠀⠀⠀Embora em alguns momentos o poder judiciário e o legislativo apresentem contradições à sanha do Governo, em outras, inclusive, potencializa a supressão de direitos sociais, como no caso do novo marco do saneamento básico, comemorado por liberais na mídia e no governo, mas que representa ao povo pobre a subordinação da gestão de recursos, como a água, ao mercado, dando plenitude à forma-mercadoria que é base da lógica capitalista. Assim, enquanto vários países do mundo trazem de volta ao poder do Estado, garantindo instâncias de controle social, os serviços que outrora foram tornados privados, o Brasil caminha na contramão, sob reflexo de uma reorganização econômica mundial, que exige dos países periféricos, o pagamento de uma fatura bastante cara e colonialista. Imperialismo nu e cru.
⠀⠀⠀Na educação e saúde, também estão transparentes as intenções de privatização dos equipamentos públicos e a eliminação integral das chances de invenção política de setores da sociedade civil organizada nas políticas aplicadas, dado o esvaziamento dos conselhos nacionais de direitos. A possibilidade de nomeação de interventores nas instituições federais de ensino superior, que já ocorre, demonstra que a democracia institucional foi posta em questão, e avança a articulação mais perigosa dos últimos tempos: a união do reacionarismo político com o neoliberalismo econômico. Recentemente, na reunião ministerial que foi tornada pública, pudemos observar também o pensamento tacanho do Ministério da Economia, que deixava de fora do cálculo econômico de gestão de recursos até mesmo as microempresas, tão vitais à geração de empregos na atual realidade brasileira.
⠀⠀⠀Abraham Weintraub, que até então ocupava o cargo de ministro da educação, não ficou pra trás. É sintomático ver que o mais alto executivo da educação nacional não falou absolutamente nada sobre educação, senão de devaneios direitistas sobre liberdade enquanto confessa o sonho da destruição da estrutura social do Estado Brasileiro. É assustador, mas não estranho, tendo em vista que os problemas reais da educação pública brasileira nunca foram pauta pro planejamento de governo bolsonarista, que se ocupava muito mais em combater o que chamava de doutrinação comunista dos livros didáticos, abandonando pautas importantes como ações afirmativas, o FUNDEB e a interiorização do ensino superior. O fato de não termos uma política estrutural relacionada à educação, bem como a dança das cadeiras do Ministério, nos prova que o interesse é colocar o futuro dos jovens e a produção de conhecimento em uma mesa para negócios, sob o poderio de conglomerados como a Kroton, que tem em sua trajetória um conjunto de denúncias de irregularidades, que em última instância deseja ter a governança educacional do país, começando pelo ensino superior. Tornando o conhecimento uma mercadoria, precarizando o acesso.
⠀⠀⠀Entretanto, apesar desta situação caótica, que não apresenta quadro de melhora dentro do atual Estado burguês, vimos na sociedade brasileira a concretização de movimentos de resistências. A marcha dos antifascistas em várias partes do Brasil, mesmo em

Colagem por: @inquietar
uma crise de saúde pública sem precedentes neste século, demonstra a necessidade e urgência da luta política nas ruas, o último obstáculo da fascistização do Estado brasileiro, na qual as e os estudantes de Ciências Sociais tem sido apoio à construção da resistência e ação, por meio de suas organizações políticas e movimentos.
⠀⠀⠀A derrocada da ideologia do empreendedorismo e do indivíduo como artífice da organização política e econômica são a única alternativa ao aprofundamento da privatização da vida, que envolve recursos naturais, serviços essenciais, territórios e o próprio corpo. Neste sentido, o retorno ao coletivo, à construção de espaços que tenham como referência a organização política e a contestação por meio da compreensão total das condições sociais, econômicas e políticas são os elementos que o movimento estudantil deve ter para si neste momento.
⠀⠀⠀Fazer a crítica do governo, de suas práticas políticas, das privatizações que afetam consideravelmente a produção científica e a construção de um conhecimento socialmente referenciado, implica também avançar sobre os embriões desta problemática na contemporaneidade. O neoliberalismo por meio de seus instrumentos culturais, a mídia, as redes sociais e a literatura, ressignificam nossos espaços de encontro, debate e construção, principalmente agora, durante o isolamento social que se impõe, diga-se de passagem, à menor parte de nossa sociedade, devido à pressão das empresas sobre os governos, e do próprio governo federal, que adota a necropolítica como sua razão final.
⠀⠀⠀Assim como no século XX, no avanço das políticas neoliberais pelo mundo, a partir da Europa e do Chile, nos dias de hoje apenas um levante revolucionário pode tornar a correlação de forças mais equilibrada. É importante lembrar que as florestas tropicais, os minérios, as terras agricultáveis e propriamente as mentes e corpos do nosso povo estão sob o olhar das nações imperialistas, e nossa atuação precisa ser crítica e livre de idealizações. Só o povo salva o povo. Somente a nós cabe a tarefa de sepultar de uma vez por todas o cadáver do liberalismo e dar origem ao Poder Popular em nossa sociedade!
Julho de 2020.
Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais – UFSC.
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NOTÍCIAS
Fique por dentro das notícias do CALCS!
Diálogos Sociais
⠀⠀⠀No dia 12 de junho aconteceu mais uma edição do Diálogos Sociais em casa, desta vez, com o tema: Racismo e Segurança Pública, contando com a presença da Professora Flavia Medeiros, cientista social, doutora em antropologia pela UFF e pesquisadora do INCT-InEAC. A live foi mediada pelo estudante e membro da Coordenação Geral da entidade, Matheus Menezes, e foi uma discussão de grande importância para o momento, abrindo o debate sobre a violência estatal como um mecanismo de discriminação e controle, principalmente para as pessoas negras no Brasil. Durante a transmissão ocorreram alguns problemas técnicos, mas estamos trabalhando para melhorar a estrutura e dar continuidade a esse importante espaço de diálogo.
Formação sobre Ailton Krenak
⠀⠀⠀No dia 09 de Junho, o CALCS realizou um encontro para debater sobre o texto de Ailton Krenak “O Amanhã não está a venda”. Sob as reflexões deste reconhecido intelectual indígena, discutimos a pandemia de saúde pública que vivemos, e os novos pensamentos e práticas que devemos adotar para nossa vida coletiva, a partir das inspirações dos povos originários do Brasil. O espaço foi mediado pelos estudantes, Alice Kaspary e Cristiano Kerber, tendo arrecadado cerca de 20 inscrições. Este encontro ocorreu via Discord (aplicativo de reuniões), e foi um momento muito produtivo, de troca entre todos os presentes.
Participação na Comissão do CFH
Discussões sobre Ensino Remoto na UFSC
⠀⠀⠀O Centro Acadêmico segue em todas as reuniões avaliando condições materiais e conjunturais da UFSC, com isso não recuamos no posicionamento contrário ao ensino remoto, muito menos nas críticas aos atropelos da reitoria e de suas formas de consultar aos estudantes. Temos publicado algumas notas e relatórios de documentos, para que todos possam acompanhar e participar com qualidade das discussões. De igual modo, sempre nos colocamos nos Conselhos de Entidades de Base - CEB e reuniões de colegiados com esta postura. Seguimos na defesa dos e das estudantes, para garantir que nenhum estudante fique para trás!
Campanha de Solidariedade
⠀⠀⠀Com a permanência da situação de crise devido a pandemia do Covid-19, o Centro Acadêmico continua realizando a entrega de kits para sanar necessidades de estudantes que procuram a entidade, com a ajuda de apoiadores e voluntários. Para prestar contas de como estão sendo usados os recursos arrecadados, deixamos no link abaixo a tabela de finanças da nossa Campanha para a visualização; nela constam os valores recebidos de doação nas contas Nubank e Itaú, bem como os gastos e demais doações que não foram em dinheiro. Na aba "Anexos", encontram-se os comprovantes de depósitos e da compra realizada. Agradecemos mais uma vez pelo apoio de todas e todos!
Acesse: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1hea4j02dKJBYslnz3qFljgGDMoayReuWbX_BNG6QHAM/
⠀⠀⠀A partir de deliberação do Conselho de Unidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, formou-se uma comissão de docentes e discentes para estudar e debater melhor a implementação do ensino remoto no centro. Depois de exigirmos que esta comissão tivesse paridade, recebemos a negativa da Direção de Centro, que nos permitiu apenas duas cadeiras de titulares e duas de suplentes que estão ocupadas da seguinte maneira: Centro Acadêmico Livre de Psicologia e Centro Acadêmico Livre de História como suplentes; Centro Acadêmico Livre de Geografia e Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais como titulares. A Comissão reúne-se por convocação dos próprios membros e o saldo das discussões tem sido veiculado e debatido pelos representantes em reuniões abertas de uma união entre centros acadêmicos do CFH. Nosso representante é o já conselheiro, Matheus Menezes.
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Coluna Estudantil
Esse espaço está reservado para textos, fotos, charges e outros meios que comuniquem a opinião estudantil.
Um Diálogo Sobre a Atividade Científica:
Reflexões sobre a pesquisa da UFSC acerca do novo coronavírus
Angella Monteiro Santiago
Bióloga e estudante do 4º período de Ciências Sociais

⠀⠀⠀Logo no início do mês de julho mais uma notícia interessante veio à tona em relação à pandemia de Covid-19. Um grupo de pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Universidade de Burgos (Espanha) e com a empresa BiomeHub, efetuou análises no esgoto da cidade de Florianópolis para identificar uma possível presença do novo coronavírus. Essa possibilidade existiria pois é de conhecimento da comunidade científica a excreção do vírus pelo sistema gastrointestinal. Assim, seria possível estudar a presença de coronavírus que estivessem nas fezes de pessoas infectadas (não necessariamente sintomáticas, não necessariamente em estágio de transmissão) que teriam caído na rede de esgotos de Florianópolis. Os resultados foram reveladores, apontando a presença do Sars-Cov-2 no esgoto florianopolitano desde novembro de 2019 (quando ainda não sabíamos de sua existência) até a última amostragem, coletada em março (quando já tínhamos conhecimento de casos confirmados aqui). Muitos de nós tiveram algum contato com essa notícia através da mídia, porém seus desdobramentos ainda não estão completamente explícitos, apesar de poderem ser muito promissores.
⠀⠀⠀Enquanto a mídia pipocava em manchetes como “Novo coronavírus é descoberto em amostra de esgoto de novembro de 2019”, entre os pares da comunidade científica a notícia chegou causando muitos questionamentos. Não me entendam mal, isso é ótimo. É assim que notícias científicas devem reverberar mesmo, provocando reflexões e análises mais aprofundadas. De acordo com as questões mais gerais trazidas por Thomas Kuhn, físico e filósofo estadunidense do século XX, a “ciência normal", o estado basal da ciência, se dá enquanto estudamos a partir de paradigmas científicos já desenvolvidos e vamos acumulando conhecimento em relação a estes. A ciência normal apenas passa por um processo de “Revolução Científica” (quando há a criação de novos paradigmas que movimentam a Ciência para grandes transformações) ao se deparar com anomalias, eventos científicos que coloquem em cheque tais paradigmas e a ciência normal praticada naquele contexto. Repare bem, para Kuhn o contexto influencia muito, pois as variáveis externas são importantes para se pensar e promover o desenvolvimento dos estudos científicos.
⠀⠀⠀Trago Kuhn para que possamos pensar sobre essa receptividade dos estudos feitos pela UFSC por parte da comunidade científica que, para alguns, pode parecer pouco amigável. Na verdade, é uma reação esperada e, além disso, responsável pelo avanço das discussões colocadas no estudo. Cabe à cada parte (quem promove o estudo e quem o questiona) manter o debate até que se estabeleça um consenso na comunidade, este sendo baseado em dados empíricos e análises subjetivas desenvolvidas pelos sujeitos e criticadas (no bom sentido) por outros. No caso desta pesquisa, alguns dos questionamentos que mais tem surgido estão relacionados a duas questões: (1) a falta de detalhamento em relação aos procedimentos e análises efetuados, visto que o artigo que trata sobre o estudo está em fase de pré-publicação - ainda não foi revisado por seus pares e submetido à uma Revista - e é realmente bem sucinto para a densidade de debates que levanta e de variáveis envolvidas; (2) a necessidade de se realizar um sequenciamento do genoma completo dos vírus encontrados, ou seja, “ler” todo o seu DNA para que este possa ser comparado ao já conhecido novo coronavírus - desta forma, teria-se a certeza de que se trata mesmo do Sars-Cov-2.

Fonte: Freepik.com

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⠀⠀⠀Em relação ao primeiro ponto apresentado, pode-se observar que o assunto é latente e que a sugestão das pesquisadoras para que se replique o mesmo estudo em diferentes localidades é algo de grande importância, visto que este método de análise envolvendo o esgoto já foi realizado em alguns estudos fora das Américas e poderia auxiliar no controle epidemiológico da quantidade de vírus presente em determinada região, assim como na identificação da dispersão geográfica do vírus com análises retroativas e, enfim, outras diversas questões relacionadas à evolução da pandemia em si. Porém, o mecanismo de avaliação por pares e o detalhamento do processo envolvendo o estudo são essenciais para que outros cientistas se convençam que estes resultados apresentam evidências e análises suficientes para serem considerados verdadeiros, validando, então, o que está sendo noticiado. Assim, seria adequado publicizar estes resultados antes de haver um trabalho de verificação por parte de colegas e revisão para publicação em revista? Não seria recomendado efetuar, antes, o sequenciamento completo do genoma dos vírus em questão? A pressa em publicar estes dados, por mais bem-intencionada que seja, não poderia por em xeque a validade dos resultados e, inclusive, a credibilidade científica em geral?
⠀⠀⠀São questões colocadas que, como podemos notar, envolvem as metodologias e dados empíricos, mas não se restringem unicamente a estes. São provocações para reflexões acerca da subjetividade humana a que estão sujeitas todas as pesquisas empíricas. A efervescência e urgência do tema, a necessidade gerada pela Academia de acumular publicações, a ansiedade em se deparar com uma forma mais eficaz de analisar o quadro geral e o desejo latente de que esta seja, de fato, uma grande contribuição são algumas das variáveis que entram em jogo. A ausência de detalhamentos que explicitem como estas variáveis são atenuadas em busca de um resultado que seja o menos tendencioso possível pode ser um empecilho real para a validação de resultados. Pessoalmente, neste caso, penso que seja provável que as pesquisadoras e o grupo envolvido estejam conscientes da responsabilidade e sensibilidade da notícia apresentada, e apresentarão as respostas solicitadas por seus pares para que toda a comunidade científica possa levar adiante as importantes consequências deste estudo. Inclusive, foi dito em uma live feita com as cientistas em questão que o sequenciamento completo já estaria em desenvolvimento.
⠀⠀⠀Observamos, então, a importância da metodologia científica e dos mecanismos desenvolvidos para que se validem os resultados obtidos. Em tempos de fake news, governança por redes sociais e máfia do WhatsApp, não podemos perder de vista o que diferencia a Ciência do achismo e da desinformação que permeiam estes outros espaços. Enquanto essa notícia chega como uma verdade (sendo que ainda está em uma etapa de verificação) as pessoas sugerem já que governos revejam suas práticas e que estes resultados sejam aplicados imediatamente como verídicos. Sabemos que a pandemia se trata de um assunto sério, de interesse geral, e que todas as decisões que envolvem este cenário atual impactam na vida das pessoas. Por isso, é importante que façamos esforços no sentido de desvelar como a Ciência se personifica neste mosaico de pesquisadores que compõem a comunidade científica e quais são as diferentes dimensões de impacto que cada etapa deste processo pode ter. Para combater essa desinformação, se faz necessário construir uma Ciência mais acessível, que caminhe cada vez mais até uma Ciência Popular, pois o total desconhecimento da complexidade dos processos de estudo e validação científicos afasta a população de uma relação mais palpável com esta instituição que tanto permeia as relações sociais e influencia rumos políticos.
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Agricultura Familiar: Lutas e esperanças



Josué Ruppenthal, Raul Bagatini
& Cristiano Kerber
Estudantes de Ciências Sociais e membros do Núcleo de Estudos sobre Agricultura Familiar
⠀⠀⠀Uma significativa parcela dos alimentos que compõem nossas refeições provém do trabalho das famílias que vivem no campo no Brasil. Os agricultores familiares, categoria com bases institucionais e de significado plural, são responsáveis pela produção de 80% dos alimentos produzidos no mundo; mas, muito além da frase de agitação, "se o campo não planta, a cidade não janta", esta concepção de agricultura abarca uma pluralidades de discussões e temáticas, tendo relevância significativa para a nossa sociedade.
⠀⠀⠀Falar de agricultura familiar no Brasil atualmente, significa falar de aproximadamente 4,4 milhões de famílias, setor que emprega 70% dos brasileiros que vivem no campo, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em 2018, o total de estabelecimentos nesse modelo chegava a 84,4%, mas a área total representava 24,3%, de acordo com o Censo Agropecuário. Essa concentração fundiária que o Brasil apresenta, potencializa problemas como o êxodo rural, conflitos agrários, forte expansão da monocultura, e com isso, problemas demográficos, socioambientais e geopolíticos, que se agravam no contexto da pandemia que vivemos.
⠀⠀⠀Apesar da posição de desprivilégio na estrutura fundiária do país, a prática dos agricultores familiares é fundamental para a produção de alimentos, principalmente voltada para o abastecimento interno; tanto no que se refere à quantidade quanto no relativo à variedade, chegando em questões cruciais como segurança alimentar, garantindo a distribuição de comida nos interiores e grandes centros, além da soberania alimentar, quando transformam seu trabalho em manutenção da cultura e da tradição, incluindo sementes crioulas (não modificadas geneticamente) e técnicas agrícolas sustentáveis.
⠀⠀⠀A relevância desta dimensão do país também se reflete na subsistência das famílias brasileiras, pois, diferente do agronegócio (popularmente conhecido como latifúndio), a agricultura familiar, caracterizada pela pequena produção e força de trabalho da família, emprega consideravelmente mais pessoas, já que a mecanização quase integral nas grandes propriedades, além da grilagem de terras, é responsável pela literal expulsão de comunidades inteiras. Qualquer estudo mais engajado sobre a realidade social de municípios rurais, mostrará que onde chega a concentração de terras agrícolas, afastam-se os pequenos produtores, e com eles, suas importantes contribuições econômicas, sociais e ambientais.
⠀⠀⠀Um grupo social como este, tão importante e crucial para o país, devido a exploração sofrida historicamente, precisa de apoio e incentivo de Estado, através de políticas públicas eficientes e concretas, visando dar condições para esses brasileiros continuarem a viver e produzir no campo. Entre as possibilidades estão programas de crédito, seguros de produção, aquisição de terras, incentivo à comercialização e custeio de safras. Uma das principais iniciativas é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Outros dois importantes programas são o Programa de Aquisição de Alimentos-PAA, criado em 2003, com o objetivo de adquirir produtos da agricultura familiar para atender a demanda de alimentos de populações em condição de insegurança alimentar; e o Programa Nacional de Alimentação Escolar-PNAE, criado em 2009, que é um programa do governo federal que tem a finalidade de oferecer alimentação saudável aos milhões de estudantes das escolas públicas de todo Brasil. Os principais benefícios gerados pelo PNAE e PAA aos agricultores, são a criação de mercado para os seus produtos, a valorização da produção de alimentos locais e regionais, o incentivo à organização, cooperação e/ou formalização dos agricultores, o fomento do empreendedorismo local, a valorização dos aspectos sociais, culturais e ambientais e criação de novas oportunidades de negócio e geração de emprego e renda. Contudo, destacamos que após o Golpe desferido à democracia em 2016, todas estas políticas sofreram drásticas reduções, enquanto o agronegócio continua a prosperar indefinidamente sob a tutela da burguesia.
⠀⠀⠀Porém, em nossa história isso não é uma novidade. O Estado brasileiro, desde o Brasil colônia, fez uma opção política destrutiva pela agroexportação baseada no latifúndio, o que exigiu nas últimas décadas, que as cooperativas de produtores, os coletivos agroecológicos e os movimentos sociais campesinos, tomassem a cena pública para defender que sim, a agricultura familiar, de bases camponesas, é responsável pela melhoria de vida das pessoas e a superação da condição de subdesenvolvimento do nosso país, em oposição ao agronegócio, ao neoliberalismo e à globalização da miséria.
⠀⠀⠀Portanto, defender a agricultura familiar é pôr-se ao lado de um modo de vida que nos permite pensar/concretizar a sustentabilidade, a agroecologia, a soberania e a segurança alimentar fora dos moldes criados pelo mercado, em produzir para alimentar e não para lucrar, é falar dos que resistem ao espólio da acumulação capitalista até hoje, da constituição de um grupo social que bravamente tenta manter-se mesmo ameaçado pelo cheiro do veneno e o barulho dos tratores de esteira que servem o agronegócio e são legitimados por um Estado que é escudo para a classe dominante.
⠀⠀⠀Embora saibamos que este grande grupo de pessoas também tenha seus problemas e contradições internas, dentro da dinâmica da globalização, com a mudança nos modos de vida e o avanço tecnológico que deram origem a novos dilemas e requerem novas soluções, acreditamos que a agricultura familiar, sobretudo, organizada no coletivo, pode ajudar a criar as soluções para o futuro com realismo e com o apoio de uma ciência popular e progressista. Dessa forma, os cientistas sociais não devem reproduzir discursos que coloquem o rural e os agricultores como “atrasados” e “subdesenvolvidos”, mas, que valorizem, em suas pesquisas e projetos, as culturas agrárias, a tradição camponesa e os modos de alimentação e de produção de alimentos do passado e do presente, e juntem-se a esta importante luta. Não podemos nos esquecer que várias experiências revolucionárias nasceram no campo. Quem na história escrita pela nobreza e pela burguesia era coadjuvante, na história escrita pela classe trabalhadora tem que compartilhar do protagonismo.
⠀⠀⠀Somente assim, podemos falar de uma sincera união entre campo e cidade, na qual, movimentos sociais, coletivos, organizações e cientistas exijam, não apenas políticas públicas, mas a reestruturação fundiária do país, por meio de uma reforma agrária popular, agroecológica e soberana. Embora o capital, por seus diversos instrumentos, tente nebular a importância do campo na sociedade, precisamos pensar o fim da exploração a partir das importantes contribuições do campesinato, e dentro dele, dos agricultores familiares. Não devemos nos deter nas visões que privilegiam a cidade e a indústria, a história não é certa e nem está definida, os vários teóricos que anunciaram o fim do modo de vida rural e camponês, já se foram, enquanto os agricultores permanecem firmes em seu papel histórico. A história permanecerá à nosso favor, apenas se nos organizarmos adequadamente, por isso temos o compromisso de pensar e construir uma justiça social que brote da terra. Globalizando a luta, também será global a esperança!
Marcha das Margaridas, Brasília-DF, Agosto de 2019.

Fonte: Acervo do NAF-UFSC
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O que fica da luta popular em meio à pandemia?
Matheus Menezes
Estudante do 6º período de Ciências Sociais e militante do Movimento Correnteza

⠀⠀⠀Da virada do ano passado pra cá, ninguém imaginava o que estava por vir, quantas e quantas pessoas fizeram mil promessas pra esse novo ano?! A despeito de tudo isso, estamos vivendo hoje um grande pesadelo, que, infelizmente, é real e cruel demais pra ignorar.
⠀⠀⠀No Brasil, a ideologia sanguinária do presidente Bolsonaro já abriu mais de 60.000 covas, milhares de pessoas morreram pela falta dos cuidados mais básicos em saúde. A falta de uma articulação entre governo federal, governos estaduais e municipais, é uma das principais dificuldades da quarentena no Brasil, que se arrasta sem demonstrar grandes resultados, numa rotina de abre e fecha indiscriminado segundo os mandos e desmandos da classe empresarial.
⠀⠀⠀E assim, o que de fato é essencial fica de lado: leitos de enfermaria, leitos de UTI, injeção de verbas no SUS, aumento dos salários e melhores condições de trabalho aos profissionais de saúde, investimento nos postos de saúde dos bairros, testagem em massa nas periferias, produção e distribuição local de EPIs, a lista é grande. (E isso sem falar da política de auxílio de renda - alô auxílio emergencial, já caiu na conta?).
⠀⠀⠀Resultado, alta taxa de letalidade entre os mais pobres, que são obviamente mais pretos, e que do trabalho pra casa, contribuem sem querer pra mobilidade do vírus. Enquanto no Leblon a playboyzada volta feliz à vida dos bares noturnos e aglomerações de rua, nós vamos nos acostumamos com a política de containeres, com o ajuntamento de corpos (pobres, negros e indígenas, malhados do trabalho) nos corredores dos hospitais públicos.
⠀⠀⠀Hoje em dia já podemos ver notícias de alguns países europeus festejando o sucesso de suas políticas de contenção e retomando suas atividades, num clima relativamente 'seguro'. Desse lado do oceano no entanto, o buraco é mais embaixo. Possivelmente, num longínquo 'pós pandemia', viveremos um período de arrocho social e econômico severo, e de aumento da violência do Estado. Felizmente há um descongelamento da luta popular de rua, e é daí que pode vir boa coisa.
⠀⠀⠀Se a pandemia do coronavírus instaurou formas até então inéditas de relações sociais, ela também mexeu num ponto muito antigo, no Brasil e no mundo, a fome. Como sabemos, o auxílio-banqueiro de 1,2 trilhões saiu bem rápido, sem cadastro nem inscrição por aplicativo, enquanto o emergencial pro povo pobre virou novela no boca-a-boca das pessoas.
⠀⠀⠀É nesse contexto que se inserem as campanhas solidárias dos movimentos socias, como o Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB), por exemplo, que para além da doação de cestas básicas, organiza momentos de estudo, debate e até assembleias nos bairros de periferia.
⠀⠀⠀Se o campo de batalha é novo precisamos também de novas estratégias. O governo brasileiro nunca garantiu, de fato, o direito ao isolamento, se os trabalhadores estão nas ruas buscando seu sustento, os movimentos populares de luta não poderiam ficar guardados em casa. Onde "tá" o povo, "temo" que "tá" junto!
Manifestação de moradores do Alto Pantanal, em Florianópolis-SC, por acesso à água!

Fonte: Movimento de Lutas nos Bairros, vilas e Favelas - SC
⠀⠀⠀Nada fácil num contexto mortal de pandemia! Mas cabe aos movimentos de luta, de esquerda, movimentos populares construir um plano de ação pautado no que nosso povo precisa hoje. Precisamos dar cabo das necessidades objetivas, e debater no campo da política os problemas das comunidades. O estudo é necessário, cair pra dentro da disputa de consciência, formar lutadores e lutadoras populares é oxigênio pro pulmão da transformação social.
⠀⠀⠀Nesse sentido, uma coisa é muito importante, precisamos debater com pedagogia! Sem os floreios que se pintam de superioridade, sem falsas declarações de iluminismo, com honestidade, firmeza nos princípios e de peito aberto! É preciso debater nos termos que as pessoas estão familiarizadas, cair pra dentro de suas contradições sem a pretensão de dar cabo de tudo, mas fazendo um embate franco, honesto e propositivo. Os grandes quadros da revolução estão nas ruas aos montes, cabe aos movimentos populares, de espírito verdadeiramente revolucionário, encontrá-los, lapidá-los.
⠀⠀⠀Não tenho a pretensão de esgotar esse debate, importa que ele se desenvolva como debate inclusive, que não morra como monólogo. E que fique a reflexão no público desse periódico. Ocupamos um lugar privilegiado em relação à maioria da população do nosso país, estudamos variadas perspectivas de abordagem, de método, lidamos dia-a-dia com várias teorias sociais, estudamos esquemas e sequências, tocamos entidades representativas, etc. Para além do que nos compete acadêmica e profissionalmente, qual nosso lugar nas luta do nosso povo brasileiro? Nas lutas das comunidades periféricas de nossa cidade? Nas disputas políticas do nosso tempo?
⠀⠀⠀Esse texto não é um poço de afirmativas, é um espaço de impressões iniciais, com um sentimento de provocação, desejo de debate e vontade das lutas de rua. E as ruas, elas estão abertas pro nosso bloco passar!
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Coronavírus e a produção de narrativas subjetivas
Estudante de Antropologia e bolsista do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS-UFSC)
Marcus Vinícius Martins

⠀⠀⠀Assim como Ailton Krenak, na parábola Ideias para adiar o fim do mundo, que é uma compilação de seu atual pensamento sobre o antropoceno, tenho me motivado, como rota de fuga possível para enfrentar os devaneios da trajetória humana, em pensar outras possibilidades de narrativas diante da crucial batalha que estamos atravessando. Suas palavras, muito mais esperançosas e lúcidas do que pessimistas nos propõe um debate acirrado para pensar nossa atuação no mundo e, sobretudo, nossa relação com o mundo.
⠀⠀⠀No imaginário coletivo ocidental entendemos nosso seio social como único. O nosso tempo é nosso e de mais ninguém. Nossa era é a salvadora da pátria. Relaxamos para a contribuição das outras eras e seres que vieram antes de nós, responsáveis por estabelecer um pacto de perpetuar o que somos hoje. Entendemos a diversidade muito mais na nossa noção de humano. Não conseguimos exercer a capacidade de colocar em prática nossa noção de mundo, de mundos possíveis, de vidas e relações possíveis. Nossa racionalidade é inteiramente capaz de traçar um entendimento potente de que a nossa noção de mundo não é a única, mas persistimos presos no sistema que cada vez mais vai estreitando nossa capacidade de ser humano.
⠀⠀⠀Não estou pensando aqui humanidade como ação generosa, como solidariedade, não descartando também tais entendimentos. Todavia, me esforço para compreender a noção de humanidade que pensamos/queremos ser. O coronavírus, sequenciada da Covid-19, visto por outros olhares, é uma
pandemia assim como outras que marcaram nossa história enquanto mundo mundo que afetou muitas pessoas e gerou mortes. Um processo, diga-se de passagem, natural no cenário de qualquer problema que afete a saúde de muitas pessoas em escala global. Todavia, tratando-se de narrativas, pensamos na ideia de fim de mundo como uma narrativa de contemplar, enquanto rota de fuga, essa noção de fim da humanidade. O que, subjetivamente, coloca em cheque nossa saúde mental, mas também nossa relação com o cosmo. O antropoceno, que mesmo sem falar muito encontra-se nas entrelinhas de reflexões como essa, é uma narrativa da era que chegamos a ser.
⠀⠀⠀Nesse sentido, é difícil compreender a nossa subjetividade como produtora de outras narrativas possíveis de adiar o fim do mundo, que como bem nos coloca Ailton Kreak, sempre fomos capazes, enquanto humanidade, de fazer isso. Certamente, daqui pra frente muita coisa mudará. Pra melhor, pra pior, não se sabe. A noção ideal de tempo, de pertencimento, de relação, de distância. O próprio entendimento pós-moderno de pensar o ciberespaço e, sobretudo, a nossa noção de humanidade. As redes e movimentos de solidariedade e de apoio serão reveladores nessa nova era. A crise, como em qualquer outro período da história global, é necessária e sempre existirá, entretanto, pensemos ela como reveladora de perspectivas outras, sobretudo, enquanto um processo divisor de águas para adiarmos o fim do mundo.
Dias Maciel
Estudante do 3º período de Ciências Sociais.
Para mais ilustrações: @soudias_
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Os Sujeitos da Educação de Jovens e Adultos
como Sujeitos de direito
Licenciado em História , especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e mestre em Educação. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas da Educação de Jovens e Adultos da UFSC – (EPEJA) e é membro do Fórum Estadual de EJA de Santa Catarina
João Vinicius dos Santos Bobeck

⠀⠀⠀Na conjuntura do atual governo extremista, carecemos ter a consciência que a caminhada do desenvolvimento histórico das políticas públicas educacionais em Educação de Jovens e Adultos, assim como os impactos do neoliberalismo vigente na sociedade globalizada relativamente embasadas com a chegada da extrema direita ao poder, com seus discursos de ódio sem fundamento científico, porém de cunho fundamentalista pseudo-cristão-religioso, podemos afirmar no que tange a Educação de Jovens e Adultos e os Direitos Humanos, estão intimamente inter-relacionados. Explico: as políticas de Estado mínimo implementadas foram intencionalmente postas em práticas para que as classes subalternizadas fossem relegadas ao esquecimento em prol das burguesias de baixo clero, compostas principalmente por pequenos e médios empresários e profissionais liberais que acreditam no sucesso através da verdadeira arte da meritocracia e pela alta burguesia no qual os direitos básicos da população não estão nas suas agendas econômicas neoliberais sustentadas, humilhadas e inferiorizadas por outras camadas sociais. Nesse contexto os Direitos Humanos e a EJA estão comumente esquecidos das políticas púbicas de Educação da atualidade – se é que temos algum projeto de Educação vigente neste momento da História do Brasil.
⠀⠀⠀Sendo assim, torna-se de extrema preocupação que os Direitos Humanos, juntamente com o Direito à Educação, estejam menosprezados ao esquecimento, a sujeição e a subordinação da classe extremista governamental e da burguesia como um todo, em que somente a produção e o lucro pode gerar cidadãos consumidores aptos a não pensar e prontos a dissipar o que a classe mesmo produz.
⠀⠀⠀Nesse sentido, as pesquisas produzidas em EJA, elabora, pensa, articula e milita-se na necessidade de avançar enormemente nestas questões educacionais humanistas, principalmente devido às demandas que já
houve e as que irão surgir na sociedade atual e que devem ser incorporadas ao ambiente escolar. Há a consciência de que existem lutas em diferentes segmentos da sociedade, bem como em relação aos movimentos sociais ao longo do século XX e XXI os quais puderam propiciar um certo reconhecimento a EJA, englobando as diversidades e as especificidades, embora se saiba que muito desse reconhecimento ainda não se efetive na prática, por isso a necessidade de militância em todas as esferas da Educação.
⠀⠀⠀Faz-se imprescindível na Educação de Jovens e Adultos romper com a visão deturpada de educação compensatória supletiva, uma vez que todos os sujeitos da EJA, sejam eles, educadores, educandos e gestores, devam construir espaços para uma educação de jovens e adultos que atenda às especificidades e às necessidades, propiciando a escolarização, a conscientização de cidadão de direitos e subsequente sua certificação para a inserção no mercado de trabalho com condições dignas e íntegras a fim de que possa ser um cidadão formado em sua plenitude e direitos. Assim, ter-se-á um compromisso com toda essa esfera da Educação, utilizando-se do conhecimento adquirido para poder intervir na realidade e promover a EJA como uma modalidade de educação pública, gratuita e de qualidade.
⠀⠀⠀Portanto a efetiva proteção dos Direitos Humanos demanda não apenas políticas universalistas, mas também específicas, endereçadas a grupos socialmente vulneráveis, enquanto sujeitos da exclusão. Isto é, a implementação dos direitos humanos requer a universalidade e a indivisibilidade desses direitos, acrescidas ao valor da diversidade. Ou seja, na atual conjuntura política não podemos perder de vista que ao processo de expansão dos direitos humanos, da educação, deve-se somar a garantia de especificação destes sujeitos de direito nas políticas públicas.
Comissão – Comunicalcs:
Editorial: Cristiano Kerber & Matheus Menezes
Notícias: Victória Zanoni
Prestação de Contas (Campanha de Solidariedade): João Vitor Salvan
Diagramação e Revisão: Cristiano Kerber & Eduardo Grotmann

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