
COMUNICALCS
A VOZ ATIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS – UFSC

4ª EDIÇÃO
O Jornal Estudantil do Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais | UFSC
MARÇO/2020
COMUNICALCS
A voz ativa das Ciências Sociais

Editorial
SEJA EM 2019 OU 2020, EDUCAÇÃO PARA BOLSONARO NÃO TEM NADA DE INTERESSANTE!
⠀⠀⠀Chegamos em 2020, ufa, superamos o ano anterior graças à força do tempo e à muita luta. Nesse novo semestre, desejamos boas-vindas a todes caloures, que possam conhecer a Universidade, curtir, mergulhar na experiência da educação superior pública e, sobretudo, lutar por ela! Há quem diga que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Nesse sentido, 2019 é 2019 e 2020 é 2020. Pode ser, podemos encarar de ambas as formas, mas o que não podemos negar é que 2020 chegou anunciando muitas dificuldades para a UFSC, para as IFES e para todo o ensino superior.
⠀⠀⠀Pra quem “tá” chegando agora e não sabe, no ano passado boa parte do nosso 2º semestre foi ocupado por uma greve estudantil de mais de 30 dias, em uma mobilização necessária para fazer frente aos grotescos contingenciamentos de recursos que as universidades foram submetidas. Pra esse ano, situação semelhante já está anunciada, isso porque a UFSC dispõe de 40% a menos de orçamento de custeio e pode não ter dinheiro nem para pagar salários a partir de outubro, segundo a SEPLAN¹. Se segurem nas cadeiras, porque não para por aí.
⠀⠀⠀Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) determinou a todas as instituições federais que evitem qualquer gasto com pessoal, desde benefícios como hora-extra, adicional noturno e progressões de carreira até contratação de professores e servidores.
⠀⠀⠀A UFSC se posicionou, em nota, dizendo que seguirá os cronogramas dos editais já publicados, mas que a contratação efetiva ficará dependendo de nova situação orçamentária. Muitos cursos serão afetados e, claro, Ciências
Sociais está entre eles, e falta de professores pode afetar a oferta de disciplinas do curso.
⠀⠀⠀São muitas as frentes de luta que se apresentam e envolvem completamente a vida acadêmica dos estudantes. Para esse ano, de todo o montante previsto para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 87,7% estão congelados já para o CNPq², o valor em relação ao ano passado diminuiu em 84%. Que ninguém se perca nos números, pois o importante aqui é ter a certeza de que o maior inimigo da educação hoje é o próprio MEC. E não só da educação superior, o NDI³ e o Colégio de Aplicação também estão na mira da gangue Weintraub-Bolsonaro. Só o Aplicação teve uma redução de 34% do seu orçamento, e até a merenda dos alunos está ameaçada. A escola também tem déficit no quadro de professores e está impedida de selecionar novos docentes. Já são seis disciplinas afetadas, incluindo Educação Especial. Sem aulas, os alunos ficam no pátio da escola. Ainda segundo matéria da APUFSC, das 37 bolsas necessárias para garantir a acessibilidade de diversos alunos, apenas 10 estão garantidas.⠀⠀⠀
⠀⠀⠀Por último, mas não menos importante, a educação superior pública ganhou um cavalo de tróia como presente de natal no ano passado, no dia 24 de dezembro. Bolsonaro assinou a MP⁴ 914, que pretende mudar a forma de escolha dos reitores das universidades, institutos federais e do colégio Dom Pedro II.
⠀⠀⠀Bolsonaro e Weintraub demonstram seu desprezo pela autonomia universitária e pelo direito à consulta popular, no “conjunto da obra”, articulam o colapso das instituições federais, montam armadilhas para os gestores das instituições públicas, adubam com a precarização pra fazer brotar a salvação das privatizações.
⠀⠀⠀Para nós, o que deve nortear o debate deve ser a máxima: Reitor eleito, reitor nomeado. Se hoje as universidades carecem tanto de recursos para seu pleno funcionamento, é porque há anos vivemos um processo de precarização da educação pública e fortalecimento da iniciativa privada, Bolsonaro representa a destruição acelerada do que é público, do entreguismo e das políticas anti soberania. Solução pra nós é um “fora Bolsonaro” bem dado, aliado ao grito em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade!
¹SEPLAN: Secretaria de Planejamento e Orçamento
²CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
³NDI: Núcleo de Desenvolvimento Infantil
⁴MP: Medida Provisória
Março de 2020
Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais – UFSC
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NOTÍCIAS
Fique por dentro das notícias do CALCS!
Nova Coordenação de Curso
⠀⠀⠀E começamos este semestre com nova gestão na Coordenação do Curso! A Professora Leticia Maria Costa da Nóbrega Cesarino é a atual Coordenadora e o Professor Rodrigo da Rosa Bordignon o Vice-Coordenador. O mandato iniciou-se no mês de fevereiro e sua duração é de dois anos.Hoje não há ampla participação discente para a eleição de Coordenação de Curso, sendo esta restringida às reuniões de Colegiado. Assim, torna-se necessário a retomada da pauta no debate entre os estudantes durante o próximo período, levando em consideração que a Coordenação tem efeitos diretos no dia a dia dos mesmos. Fique por dentro das reuniões divulgadas pelo CALCS e não perca as pautas!
Assembleia Estudantil sobre a XXI SACS
⠀⠀⠀Nos dias 2, 3 e 4 de junho será realizada a XXI Semana Acadêmica de Ciências Sociais - a SACS! Por conta disso, ainda durante esse mês acontecerá a Assembleia Estudantil que definirá o tema dessa edição e a composição das Comissões Organizadoras do evento. A data ainda está a definir, portanto não deixe de seguir as redes sociais do CALCS para não perder as próximas notícias e datas. Além disso, já está disponível o formulário online do qual você, estudante, pode opinar anonimamente sobre qual temática mais te interessa na SACS. É com base nas respostas desse formulário que levantaremos as possibilidades de temas que serão levados para a Assembleia. Link do formulário: https://forms.gle/J94o2YdUM4yFHRMy6
Reunião de Planejamento Semestral
⠀⠀⠀Se liga, estudante! No dia 14 de março, a partir das 10h, será realizada a Reunião de Planejamento Semestral do CALCS, crucial para a vida orgânica da entidade durante o semestre que se inicia. Nela é decidido o calendário do Centro Acadêmico, ou seja, aquilo que irá guiá-lo durante o semestre de 2020/1. Atividades esportivas, culturais, de integração, debates, acadêmicas etc, são definidas e espalhadas no calendário de acordo com o debate realizado neste importante dia. O local será divulgado em breve pelas redes sociais do CALCS, portanto não deixe de nos seguir. Save the date: 14/03, 10h. Local a definir.
Calourada 2020/1
⠀⠀⠀Neste ano a Calourada nas Ciências Sociais começou cedo! Desde o período de matrícula, de 3 à 7 de fevereiro, estivemos junto a turma de veteranos recepcionando os calouros com fotos, cafézinho e disposição para ajudar naquilo que fosse necessário. A recepção encerrou-se na sexta-feira, com um bar da matrícula. Na primeira semana de aula, como tradição, estivemos todos os dias após o intervalo de aula junto a primeira fase, realizando atividades dinâmicas de socialização para conhecermos uns aos outros. Para finalizar com grande estilo, no dia 7 de março realizamos a Festa de Encerramento da Calourada com muita música, bebida e segurança. E assim iniciou-se o semestre nas Ciências Sociais!

Coluna Estudantil
Esse espaço está reservado para textos, fotos, charges e outros meios que comuniquem a opinião estudantil.
RESISTE, CARNAVAL!
⠀⠀⠀“Mãe, o que é o Carnaval?” perguntou uma garotinha à sua mãe, em espanhol, esses dias enquanto eu estava no mercado. Essa pergunta chamou a atenção da minha escuta. A mãe respondeu algo como “é uma festa brasileira muito importante”, ao que a criança, com a sábia curiosidade infantil, pergunta: “mas por que é importante?”. ⠀⠀⠀Buscando responder à pergunta, consultei a história do Carnaval. O “Entrudo”, festa trazida ao Brasil pelos
portugueses invasores, levava o povo às ruas para que se molhassem. Com sua popularização, a atividade passou a ser reprimida. Assim, começamos a criar formas diferentes de reinventar a festa, em sua maioria ligadas à cultura afro-brasileira. O próprio Samba no Brasil foi marcado pela repressão. Originário de batuques de origem africana, foi criminalizado e reprimido como toda cultura afro-brasileira que se expunha timidamente após a falsa abolição, em 1888.
⠀⠀⠀Em Florianópolis, o Carnaval também se origina de um movimento popular. Seu Bonassis, tradicional carnavalesco da primeira Escola de Florianópolis, conta que a população branca festejava nas imediações do Palácio Cruz e Souza e da rua Felipe Schmidt, enquanto a população negra ocupava a Praça XV de Novembro. Na Praça XV, as pessoas brincavam ao som da Escola, “Os Protegidos da Princesa”,” (seu nome, uma referência à assinatura da Lei Áurea e ao sonho da democracia racial).
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⠀⠀⠀Surge outra Escola de Samba, “Embaixada Copa Lord”, e seu Teco relembra que os instrumentos eram apenas uma caixa, barricas e chocalhos feitos com chapinha de cerveja. A disputa entre as Escolas se acirra, e o povo engrossa a festa na Praça, que passou para a Avenida Paulo Fontes. Em 1987, a Passarela Nego Quirido é inaugurada nos moldes do Sambódromo do RJ. O nome da Passarela é uma homenagem a Juventino João dos Santos Machado, fundador da Copa Lord.
⠀⠀⠀A partir daí, a mercantilização passa a dominar, cada vez mais, o carnaval de Florianópolis, fenômeno observado por todo o Brasil. A separação entre blocos de rua e escolas de samba se faz mais marcante. Com a profissionalização crescente das escolas de samba, houve uma transferência de foliões das ruas para as passarelas. O evento passou a seguir os moldes do carnaval carioca, marcado pela privatização da administração da passarela em 2019 e pelo investimento da iniciativa privada nas Escolas desde 2017, descaracterizando o resultado de longos processos de construção popular. Para a historiadora Cristiana Tramonte, a apropriação pelo Capital trouxe uma nova dimensão: a necessidade de garantir a continuidade da tradição popular. A mercantilização que o assombra está em tudo o que resulta da política neoliberal atual.Em oposição a isso, é relevante a ocupação das ruas e dos espaços de mobilização desta cultura genuinamente brasileira, construída como resistência a opressões racistas e classistas, que pinta a realidade conforme nossa vivência.
⠀⠀⠀Apesar disso, o carnaval de rua não está distante da lógica mercantil. A prefeitura de Florianópolis não esconde sua intenção de transformar o carnaval manezinho em um produto a ser consumido pelos turistas. Investe na criação de pacotes turísticos carnavalescos para a cidade e, este ano, grandes empresas como a Ambev investiram em parcerias com os organizadores dos eventos. A ideia da utilização de amplos espaços públicos e momentos próprios da nossa cultura para enriquecer determinados setores da indústria me desagrada.
⠀⠀⠀A cultura de um povo é sua forma de manter viva sua origem, suas lutas e conquistas, enfim, seu valor histórico e até mesmo econômico. O Bloco de rua Blocolândia ensina a importância do carnaval popular brasileiro. Constrói coletivamente cultura, entretenimento, música e alegria em uma das regiões de maior conflito do Brasil, a Cracolândia, e foi proibido este ano pela Prefeitura a

Carnaval Florianopolitano década 1970.
Foto: Reprodução, NDMais. https://ndmais.com.br/carnaval/2020/memorias-do-carnaval-tempos-de-rivalidade-e-calor-humano-em-florianopolis/
pedido da Polícia Militar. Resistência foi ver esse lindo bloco enchendo o centro de São Paulo de muita luta, sorrisos e acolhimento a quem sofre, incessantemente, com um dos piores quadros de exclusão social brasileiros, enfrentando essa medida autoritária da Prefeitura de peito aberto.⠀⠀⠀O nome do bloco que abre o carnaval de Florianópolis em 2020, “Enterro da Tristeza”, é simbólico nesse sentido. Em tempos de tanto retrocesso, de individualismo e de neofascismo escancarado, temos esse motivo para sorrir e termos consciência de fazermos parte do mesmo povo. Portanto, para responder à pergunta inicial, o
carnaval é importante para nós porque dentro dele resistimos e temos mais liberdade para resistir. Porque sentimos o prazer em cultuar a nossa própria cultura, em inverter algumas ordens sociais, em ocupar espaços que nos são negados em outras ocasiões. Porque é popular, é nosso e de mais ninguém. Por isso, faço um chamado pra que valorizemos essa cultura popular desenvolvida por décadas e que culmina nessa festa de luta, de riso e de música. Que defendamos o fator popular do carnaval. Que sejamos carnaval, pra que o carnaval continue sendo povo.
Angella Monteiro
4ª fase de Ciências Sociais

Blocolândia, 21/02/2020. Foto por: Alice Vergueiro. Link: https://www.facebook.com/photo.phpfbid=10156927947590770&set=pcb.10156927953860770&type=3&theater
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A Retomada Do Quilombo Vidal Martins no Parque Estadual do Rio Vermelho
⠀⠀⠀O direito à terra, principalmente no Brasil, é uma das pautas centrais de movimentos sociais e povos tradicionais, que travam embates constantes em detrimento da concentração fundiária ligada aos interesses e ações do Capital - estas provedoras de violência, usurpação dos territórios, degradação do meio ambiente e saque das riquezas nacionais. A negligência do Estado também é bastante expressiva, como em relação ao caso dos quilombolas, histórica e profundamente invisibilizados, que só foram considerados cidadãos a partir da Constituição de 1988.
⠀⠀⠀No tocante a comunidade quilombola Vidal Martins, a primeira reconhecida em Florianópolis, que é atualmente composta por 31 famílias, houve a expulsão pelo Estado de Santa Catarina de suas terras - localizadas onde hoje é o Parque Estadual do Rio Vermelho - na década de 1960, para que o local fosse destinado ao plantio de árvores exóticas, como pinus. Em Fevereiro deste ano, após publicação de Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) realizado pelo INCRA no Diário Oficial da União e no Diário Oficial do Estado, que comprova a expulsão e garante a terra, a comunidade se coloca de pé na tentativa de retomar seus territórios - indissociáveis da memória, história, identidade, ancestralidade, pertencimento e resistência de seu povo que, num país marcado pela escravidão, tanto lutou e ousa continuar fazendo.
⠀⠀⠀Em que pese o laudo comprove que a terra em questão é território quilombola, ela está sobreposta inteiramente em área de conservação ambiental estadual, isto é, cabe ao Estado de Santa Catarina conceder a titulação. Por fim, diante do racismo institucional, da violência histórica e de ameaças por parte de civis perpetradas contra tais sujeitos, é necessário tomar partido e somar-se na luta, pois ela é de todas e todos nós!
Pelo resgate da potência de simbolizar a existência
⠀⠀⠀No mundo cada vez mais digital tomado por mídias sociais, onde o capital constrói aparências e sonhos determinando e explorando desejos humanos, perdemos a capacidade de simbolizar a vida. A população humana cresce exponencialmente e apesar disso estamos cada vez mais isolados num mundo determinado onde as vontades e valores dependem da sua posição social, do seu status, da sua qualificação técnica, sua formação “superior” ou seu poder aquisitivo.
⠀⠀⠀O resultado disso é a dor humana, aquela que não sabemos explicar ao certo apesar do volume de teorias, trata-se da aflição constante, da angustia que vai e volta como as ondas do mar, forçando-nos a buscar ajuda técnica, consumir novos produtos de bem-estar, vitaminas, medicamentos variados e outras drogas, lícitas ou não, um consumo para silenciar, alienar e impedir que nossa capacidade de simbolizar seja nutrida, estimulada e reforçada.
⠀⠀⠀Nossa capacidade de simbolizar não é algo material, não podemos agarrar, extrair ou capitalizar, ela é única e ambígua, pois nos diferencia quanto espécie ao mesmo tempo que nos aproxima como seres humanos. No século passado Pierre Bourdieu escrevia sobre o poder simbólico, afinal poder e símbolo não estão dissociados e quando perdemos a capacidade de simbolizar também perdemos a essência humana, o poder de nos reconhecermos como seres dependentes de nossas relações e afetos.
⠀⠀⠀Simbolizar permite interpretarmos nossos sonhos, emoções, relações, rituais e formas variadas de existir, é a capacidade de simbolizar que engaja, motiva, dá sentido à nossa existência aos nossos reais desejos e ambições. Desejo que minhas palavras sirvam como argumentos para resgatarmos nossa potência de simbolizar a vida humana, para que juntos encaremos esse desafio.
João Vitor Salvan
3ª fase de Ciências Sociais
Willian Ricardo Binsfeld
10ª fase de Ciências Sociais
"o espaço que o vazio ocupa"

Imagem por: @inquietar,
3ª fase de Ciências Sociais
Comissão – Comunicalcs:
Editorial: Matheus Menezes
Notícias: Gabrielle Meireles
Diagramação: Cristiano Kerber,
Eduardo Grotmann &
Pietra Fonseca

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